portuguese.jpg english.jpg

Projeto do Amor

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on Google+Share on TumblrPin on PinterestEmail this to someoneBuffer this pageShare on LinkedInDigg thisShare on RedditPrint this page

projeto do amor-1

Lá estava eu, batendo na porta da casa do Eric, com as bochechas quentes e vermelhas feito pimenta. Não queria que ele pensasse que eu estava usando o projeto de ciências como desculpa para vê-lo. Porque, sabe, era mesmo por causa do projeto de ciências que eu estava parada desconfortavelmente em frente à porta dele. Não tinha nada a ver com o fato de eu ser meio afim dele e ele ser um gato. Tinha mais a ver com o fato de ele ter uma inteligência científica privilegiada. Acho.

O pior é que provavelmente pareceria uma desculpa, já que minha explicação para eu não ter meu projeto pronto um dia antes da apresentação pareceria um tanto esfarrapada. Mas que culpa eu tenho se as pessoas não acreditam quando dizemos que o cachorro comeu nosso dever de casa? É mesmo possível! Principalmente quando você tem um cão esfomeado feito o Max, que confunde uma rede de fios com uma suculenta macarronada colorida.

Eric me convidou para entrar. Eu, toda sem graça, desci com ele até o porão, onde ficavam as engenhocas criadas por ele e seu pai. É, o pai do Eric é inventor, daqueles meio malucões mesmo, mas até que ele cria coisas bem úteis. E o filho acabou aderindo à mania. É óbvio que Eric era a pessoa indicada a me ajudar, já que minha única ideia agora estava mastigada e desfalecida no lixão.

– Olha, eu tenho várias coisas aqui prontas. Posso te dizer o que são e o que fazem, e, se você quiser, pode apresentar alguma delas amanhã – disse ele, prestativo. Meus olhos brilharam de emoção.

– Ah, seria ótimo!

Ele foi andando pelos bagulhos, até que parou diante de uma geringonça que logo reconheci como um capacete de futebol americano, adaptado com umas molas, fios e objetos estranhos.

– Esse é o ASSIMILADOR-DE-PENSAMENTOS-ULTRA-SÊNIOR-3000 – Eric anunciou, pomposo. – Com ele, posso adivinhar seus pensamentos.

Comecei a rir, meio em dúvida se ele estava brincando comigo ou se o tempo que passou naquele lugar tinha afetado seu cérebro.

– É mesmo? – eu disse ironicamente, com um sorriso, olhando seu olhar travesso, já sabendo que ele estava tentando me fazer rir.

– É. Mas eu não preciso de um ASSIMILADOR-DE-PENSAMENTOS-ULTRA-SÊNIOR-3000 para adivinhar o que você está pensando agora.

Ele chegou mais perto e eu meio que congelei. Ficou olhando para mim com seus olhos verdes, perturbadoramente lindos. Meu coração pulou descontrolado no peito.

– E o que estou pensando agora? – Ele seria vidente, além de gênio, se dissesse: “Oh, Deus, eu só pedi um projeto de ciências, não um cara inteligente, lindo e bem-humorado olhando para mim tão de perto”.

Mas o que ele disse mesmo foi:

– Está pensando: esse cara é louco, mas eu gosto dele.

Ele se inclinou para mim. Quando entrei naquela casa, sabia que ia fazer um baita projeto de ciências. Só não sabia que ganharia um baita beijo.

Paula Ottoni

Conto publicado na revista Capricho, Ed. 1099, em Junho de 2010.

Veja a imagem da publicação ilustrada clicando AQUI.*

*O texto foi publicado antes da adoção de pseudônimo.



Copyright © Paula Ottoni, 2019.